O ministro da Fazenda não disse se está lendo algum livro. Mas se estiver, é pra parar, disse hoje o chefe dele, o presidente Lula. E se dedicar a conversar mais com parlamentares. Isso não foi conselho. Foi bronca.
Sobrou também para o neocompanheiro e vice-presidente Geraldo Alckmin. Precisa ser mais ágil, disse Lula. Lula nunca gostou de coisas intelectualizadas nem de quem fala muito manso.
Daí a referência ao livro de Haddad, e à “lentidão” de Alckmin. E resolveu arregaçar as mangas. Mostrar como se faz.
Esta é pelo menos a terceira vez desde que iniciou seu terceiro mandato que Lula diz que entra em campo na articulação política. E a situação, nesse quesito, só piorou. O governo enfrenta um momento particularmente difícil quanto à política fiscal, com consequente perda de confiança entre agentes econômicos sobre a capacidade de gerenciar de forma equilibrada as contas públicas.
Em boa parte isso — o trato das contas públicas — depende de entendimento com o Legislativo. Entendimento que não avança mesmo quando Lula entra em campo ou distribui broncas aos ministros. Talvez o problema seja mais profundo. Jeito intelectualizado e manso de dizer que o buraco é mais embaixo. O que muita gente pergunta no Legislativo e no mundo da economia é: qual é a agenda do governo, afinal?
Para onde Lula quer ir, além de gastar para garantir votos? Haddad respondeu à bronca do chefe dizendo que não faz outra coisa hoje da vida a não ser articular na política. Talvez sinta a falta de um bom livro.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Waack: Lula, Haddad e os bons livros no site CNN Brasil.