O ex-secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e ex-presidente da Abiec (Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne), Roberto Giannetti da Fonseca, afirmou que a carta de retratação do Carrefour ao Brasil foi “pífia” e “absolutamente medíocre”.
“[Precisamos de] uma indenização, porque [a fala] coloca em dúvida a qualidade da carne brasileira”, disse Giannetti, economista e presidente da Kaduna Consultoria, em entrevista ao Poder360.
A semana foi marcada pela reação brasileira à decisão do Carrefour da França de suspender a compra de carne do Mercosul. Com o boicote à rede no Brasil, o CEO Alexandre Bompard pediu desculpas por questionado a qualidade do produto sul-americano, mas não retrocedeu no embargo.
A declaração de Giannetti da Fonseca vai de encontro à avaliação de integrantes da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que reforçou a necessidade de pautar a Lei da Reciprocidade.
Assista à entrevista (22min30s):
Segundo o ex-secretário, o Carrefour foi “hipócrita” e evidenciou a falta de lógica no argumento da varejista. “Os frigoríficos que vendem carne para o Carrefour no Brasil são os mesmos que exportam para a França. Quer dizer que lá é lixo e aqui a gente pode comer?”, perguntou.
“É o chinês que deve estar lendo o jornal e pensando: ‘Se o presidente do Carrefour está falando isso, é melhor eu olhar de novo a inspeção da carne brasileira’. E o que pensa o consumidor no supermercado? Então, começa a ter todo um preconceito que é absurdo”, disse.
Ele ainda defendeu que existe uma “ignorância maldosa e intencional” em relação à legislação ambiental brasileira.
“Primeiro, tem que dar um livro de geografia para eles, para eles entenderem o que é a região amazônica e depois mostrar onde está o gado brasileiro […] É extremamente localizada na região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo”, declarou.
Para Roberto Giannetti da Fonseca, a conclusão é de que os argumentos são uma justificativa frágil para sustentar o protecionismo europeu.
“Eles [os países concorrentes] perderam a exportação de frango, perderam a exportação de carne. Hoje, quem manda no mercado mundial de proteína animal é o Brasil”.
EPISÓDIO COM O CANADÁ
Giannetti destacou o protecionismo do caso e relembrou uma situação semelhante em 2001, quando o Canadá embargou a carne brasileira.
Durante o litígio entre a Embraer e a canadense Bombardier, que vinha perdendo espaço no mercado da aviação civil, a retaliação levantada pelo país norte-americano foi contra a carne brasileira.
“Os canadenses não se conformavam de uma empresa brasileira concorrer e ganhar dele no mercado de alta tecnologia […] Então, eles resolveram criar uma retaliação. Na falta de outra ideia, resolveram atacar, obviamente, a carne, que é aquele produto que a gente tem orgulho”, disse.
O governo canadense aproveitou uma falha burocrática do Ministério da Agricultura para embargar a carne bovina do Brasil, sob a alegação de foco da doença da vaca louca no rebanho.
Com carta-branca do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), integrantes do governo ameaçaram uma resposta altiva, que dificultaria a operação de diversas empresas canadenses no Brasil.
Em poucos dias, o Canadá não só se retratou, como enviou uma missão para o Brasil para esclarecer que a carne brasileira era saudável e que a não havia evidências fundamentadas de contaminação.
“Fizeram fiscalização nos frigoríficos brasileiros, ganhou nota máxima. Ficaram surpresos com a qualidade da carne brasileira”, afirmou Roberto Giannetti da Fonseca.