O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisou ser submetido a uma cirurgia às pressas nesta segunda-feira (9) por causa de uma cirurgia hemorragia intracraniana.
De acordo com o boletim médico, divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, onde o procedimento foi realizado, Lula teve dores na cabeça na noite desta segunda (9).
Após uma ressonância magnética em Brasília, os médicos diagnosticaram a hemorragia intracraniana, relacionada ao acidente domiciliar que o presidente sofreu no dia 19 de outubro.
De acordo com informações divulgadas à época, Lula escorregou no banheiro e bateu a parte de trás da cabeça. Nos dias seguintes, era possível notar alguns pontos e um machucado na região da nuca do presidente.
Após o diagnóstico do quadro de saúde, Lula foi transferido para São Paulo onde passou por uma “craniotomia para drenar o hematoma”.
“A cirurgia transcorreu sem intercorrências. No momento, o presidente encontra-se bem, sob monitorização em leito de UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, detalha o boletim médico do Sírio-Libanês. Ele deve ficar em observação na UTI pelas próximas 48 horas.
Lula estável e conversa normalmente
Em entrevista coletiva nesta terça (10), o médico de Lula, Roberto Kalil disse que “o presidente evoluiu bem, encontra-se estável, conversando normalmente e se alimentando. Ele ficará em observação pelos próximos dias”. E completou, “o presidente não teve qualquer sequela”, assegurou ele.
Segundo Kalil, Lula será acompanhado e, se evoluir bem, deve retornar a Brasília no começo da próxima semana.
Entenda o que é a hemorragia intracraniana que Lula teve
A hemorragia intracraniana é marcada por um sangramento que ocorre na parte de dentro do crânio.
Segundo a neurologista Sheila Martins, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “trata-se de um sangramento dentro da caixa craniana, o osso da cabeça”.
Isso pode desenrolar algumas estruturas abaixo dos ossos da cabeça, como o cérebro, ou camadas que revestem as estruturas do sistema nervoso, conhecidas como meninges.
Um artigo assinado por especialistas do Centro Médico da Universidade do Nebraska, nos Estados Unidos, dividem esse quadro em quatro subtipos, de acordo com o local em que ele ocorre.
De acordo com os médicos, a hemorragia pode ser epidural (entre o crânio e a dura mater, uma das membranas protetoras do sistema nervoso), subdural (abaixo da dura mater), subaracnoide (abaixo da membrana aracnoide) e intraparenquimal (nas próprias estruturas do cérebro).
O caso do presidente Lula foi uma hemorragia subdural. “O sangramento estava entre o cérebro e a meninge, embaixo de uma membrana chamada dura mater”, detalhou o neurocirurgião Marcos Stavale, que esteve envolvido com o procedimento.
“Esse sangramento comprimia o cérebro e foi removido. O presidente está com as funções neurológicas preservadas”, complementou o especialista.
O acúmulo de sangue neste caso ocorre na superfície do cérebro, no espaço que existe entre o órgão e aquelas camadas que protegem o sistema nervoso.
Segundo o texto da Universidade do Nebraska, casos de hemorragia intracraniana exigem “avaliação neurocirúrgica imediata”, algo que aconteceu com o presidente brasileiro.
Como acidente ocorrido com Lula em outubro tem relação com a hemorragia
Sheila Martins explica que uma batida na cabeça, como a que Lula sofreu há dois meses pode romper pequenas veias, que são responsáveis por retirar o sangue pobre em nutrientes e oxigênio do cérebro e levá-lo em direção aos pulmões e ao coração.
“Muitas vezes, após uma batida na cabeça, o tratamento é conservador e envolve apenas observar o paciente”, diz a médica, que também é chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
“Mas esses pequenos vasinhos rompidos podem ficar porejando sangue ali, que aos poucos se acumula e forma um hematoma”, responde a especialista.
O neurologista Rogério Tuma, do Sírio-Libanês, confirmou que foi isso o que aconteceu Lula.
Segundo Tuma, o hematoma se desenvolveu não no local da pancada, na parte de trás da cabeça, mas no lado esquerdo. Quando ocorre o choque, o cérebro “chacoalha” dentro da caixa craniana e a lesão pode se desenvolver em outra área.
“O presidente já tinha sorvido um primeiro sangramento, mas teve um segundo. E isso provavelmente está relacionado à queda que ele sofreu”, disse o médico.
Sintomas de hemorragia intracraniana
De acordo com a Clínica Mayo, os principais sinais de hemorragia intracraniana são:
- Dor de cabeça progressiva;
- Vômito;
- Mal-estar e perda de consciência;
- Tontura e vertigem;
- Confusão mental;
- Pupilas dos olhos de diferentes tamanhos;
- Dificuldade para falar;
- Perda de movimento e paralisia.
Pelas informações divulgadas até o momento, Lula queixou-se de dor de cabeça. Motivo para os médicos pedirem exames de imagem, como a ressonância magnética. Kalil também disse que o presidente teve mal-estar e indisposição.
“Uma hemorragia intracraniana pode ser fatal e necessita de tratamento de emergência”, alerta a Clínica Mayo.
Tratamentos da hemorragia intracraniana
A forma de tratamento da hemorragia intracraniana depende da extensão e da gravidade dele. A Clínica Mayo pontua que hemorragias pequenas não produzem muitos sintomas, não precisam de intervenção imediata.
“No entanto, os sintomas podem aparecer ou piorar dias ou semanas após o acidente”, alerta a entidade.
Isso foi o que ocorreu com o presidente Lula, que sofreu sofreu o acidente doméstico em outubro e se queixou de dor de cabeça quase dois meses depois, em dezembro.
Quando a hemorragia é maior ou está pressionando o cérebro, os médicos costumam partir para a cirurgia. Existem dois tipos principais de procedimento:
Segundo a Clínica Mayo, o primeiro é a drenagem cirúrgica. “Se o sangue está concentrado numa área e mudou de um coágulo sólido para um líquido, é possível fazer um pequeno buraco no crânio e fazer uma sucção”.
Existe também a possibilidade de remover parte da calota craniana para retirar o sangue acumulado. Essa opção, conhecida como craniotomia, foi a escolhida para tratar Lula.
Mauro Suzuki, neurocirurgião do hospital Sírio-Libanês, afirmou que o presidente Lula passou por uma trepanação.
“Nós fazemos pequenas perfurações no crânio, onde são introduzidos drenos. É um procedimento padrão em neurocirurgia”, detalhou ele. Segundo o médico, essas perfurações se fecham sozinhas e não precisam de nenhum outro procedimento complementar.