Lula deve “deixar de falar” e “fazer”, diz Guaidó sobre Venezuela

Juan Guaidó, ex-líder da oposição da Venezuela, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), precisa “deixar de falar” e “tem de fazer”. Segundo ele, o político brasileiro vem sendo “muito esquivo” ao se posicionar sobre o atual presidente venezuelano, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda).

A declaração de Guaidó foi feita ao jornal Folha de S.Paulo, durante o Hispanic Ball, nos EUA. Ele está em Washington D.C., para participar de eventos da posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano).

Segundo o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), ligado ao governo chavista, Maduro teve 51,2% dos votos nas eleições de julho de 2024 contra 44% do candidato da oposição Edmundo González (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita). No entanto, os opositores afirmam que o adversário do presidente teria obtido ao menos 67% dos votos nas urnas.

Maduro tomou posse para o novo mandato em 10 de janeiro. Lula enviou a embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira, para representá-lo na cerimônia. 

Brasil e Venezuela passaram por um período de tensão diplomática quando o governo brasileiro solicitou a divulgação dos boletins de urna com os resultados das eleições venezuelanas. As atas de votação, que são documentos públicos, foram usadas pela oposição venezuelana para declarar a vitória de Edmundo González.

VENEZUELA SOB MADURO

A Venezuela vive sob uma autocracia chefiada por Nicolás Maduro, 62 anos. Não há liberdade de imprensa. Pessoas podem ser presas por “crimes políticos”. A OEA publicou nota em maio de 2021 (PDF – 179 kB) a respeito da “nomeação ilegítima” do Conselho Nacional Eleitoral.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos relatou abusos em outubro de 2022 (PDF – 150 kB), novembro de 2022 (PDF – 161 kB) e março de 2023 (PDF – 151 kB). Relatório da Human Rights Watch divulgado em 2023 (PDF – 5 MB) afirma que 7,1 milhões de venezuelanos fugiram do país desde 2014.

Maduro nega que o país viva sob uma ditadura. Diz que há eleições regulares e que a oposição simplesmente não consegue vencer.

As eleições presidenciais realizadas em 28 de julho de 2024 são contestadas por parte da comunidade internacional. A principal líder da oposição, María Corina, foi impedida em junho de 2023 de ocupar cargos públicos por 15 anos. O Supremo venezuelano confirmou a decisão em janeiro de 2024. Alegou “irregularidades administrativas” que teriam sido cometidas quando era deputada, de 2011 a 2014, e por “trama de corrupção” por apoiar Juan Guaidó.

Corina indicou a aliada Corina Yoris para concorrer. No entanto, Yoris não conseguiu formalizar a candidatura por causa de uma suposta falha no sistema eleitoral. O diplomata Edmundo González assumiu o papel de ser o principal candidato de oposição.

O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, controlado pelo governo, anunciou em 28 de julho de 2024 a vitória de Maduro. O órgão confirmou o resultado em 2 de agosto de 2024, mas não divulgou os boletins de urnas. O Tribunal Supremo de Justiça venezuelano, controlado pelo atual regime, disse em 22 de agosto de 2024 que os boletins não serão divulgados.

O Centro Carter, respeitada organização criada pelo ex-presidente dos EUA Jimmy Carter (1924-2024), considerou que as eleições na Venezuela “não foram democráticas”. Leia a íntegra (em inglês – PDF – 107 kB) do comunicado.

Os resultados têm sido seguidamente contestados pela União Europeia e por vários países individualmente, como Estados Unidos, México, Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai. 

A Human Rights Watch criticou os presidentes Lula, Gustavo Petro (Colômbia) e Andrés Manuel López Obrador (México) em agosto de 2024. Afirmaram em carta enviada aos 3 ser necessário que reconsiderem suas posições sobre a Venezuela e criticaram as propostas dos líderes para resolver o impasse, como uma nova eleição e anistia geral. Leia a íntegra do documento (PDF – 2 MB).

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