Economistas ouvidos pela CNN avaliam que as medidas anunciadas pelo governo federal para tentar conter a alta no preço dos alimentos, que vem impactando diretamente a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), serão ineficientes.
A principal medida anunciada pelo governo é a isenção do imposto de importação para uma série de produtos:
- Carne: com tarifa hoje de 10,8%;
- Café: atualmente em 9%;
- Açúcar: 14%;
- Milho: 7,2%;
- Oleo de girassol: 9%;
- Azeite de oliva: 9%;
- Sardinha: 32%;
- Biscoitos: 16,2%;
- Massas alimentícias: 14,4%.
Essa redução é vista como ineficaz por um motivo simples: com exceção do azeite, o Brasil já é um grande produtor e importa pouco desses alimentos.“Não me parece que essas medidas vão trazer nenhum alívio significativo. A gente importa muito pouco desses alimentos”, disse Felippe Serigati, pesquisador do FGV Agro.
O economista também analisa alguns produtos individualmente, como o café, que está com preço elevado ao redor do mundo e tem seu preço definido nas grandes bolsas de valores, não regionalmente. Ou seja, as ações do governo não teriam impacto direto no preço do café.
“A carne não está cara por problema de oferta. Estamos batendo recorde de produção. Não tá faltando carne. Vamos importar carne de onde? Se o mundo está correndo para comprar carne do Brasil”, disse Serigati, contestando a eficiência de zerar o imposto de importação sobre a carne.
Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, também não vê efeitos práticos nas medidas.
“Não tem tantos efeitos práticos, porque para o consumidor amplo, a carne que a gente consome já é produzida pelo Brasil, e também o café que a gente consome é produzido pelo Brasil. Não acredito que haverá efeitos reais sobre a inflação”, disse.
O governo também anunciou que vai fortalecer os estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para tentar conter a alta no preço dos alimentos. A Conab compra diretamente dos produtores, formando estoques públicos. Quando os preços sobem, a Companhia vende esses estoques ao mercado.
Para Carla Beni, economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), para o consumidor sentir o impacto dessa medida, será um processo longo.“Essa medida leva muito tempo. E você só começa a fazer isso, quando os preços estão em baixa. Você não compra quando os preços estão em alta”.
“Então o governo compra quando o preço está em baixa, e quando os preços sobem, ele desova a mercadoria para dar uma compensação e fazer um preço médio para o consumidor prejudicado. Então tudo isso é lento”, explica a economista.
Peso da alta dos preços dos alimentos é ainda maior para baixa renda
Este conteúdo foi originalmente publicado em Economistas: medidas do governo para baratear alimentos são ineficazes no site CNN Brasil.