O senador e ex-juiz Sergio Moro afirmou na 5ª feira (17.abr.2025) que Nadine Heredia, ex-primeira dama do Peru, é o “novo Cesare Battisti, o assassino asilado pelo PT”. Em postagem publicada em seu perfil no X (antigo Twitter), Moro qualificou Heredia como “a primeira-dama corrupta da Odebrecht”. “Lula tem uma queda por bandidos e prejudica a imagem do Brasil”, acrescentou.
Heredia chegou a Brasília na 4ª feira (16.abr) em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira), acompanhada de seu filho menor de idade, depois de o Brasil ter concedido asilo diplomático a ambos. Ela e o marido, o ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016), foram condenados pela Justiça peruana a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro durante a campanha eleitoral de 2011.
Humala foi um dos chefes do Executivo peruano envolvidos na Operação Lava Jato, já desmantelada no Brasil. Quando era juiz, Moro foi responsável pelos processos em 1ª instância da operação, na 13ª Vara Federal de Curitiba.
Moro fez referência, em sua publicação no X, ao caso Cesare Battisti, que provocou controvérsia jurídica e diplomática entre o Brasil e a Itália. Ex-integrante de grupo armado atuante nos “Anos de Chumbo” italianos, período marcado por instabilidade e violência política entre os anos 1960 e 1980, Battisti foi condenado em 1993 à prisão perpétua pelo crime de terrorismo e pelo homicídio de 4 pessoas.
Ele chegou ao Brasil em 2004, e, em 2010, a Itália pediu a extradição, aceita pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas negada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no último dia de seu 2º mandato.
O italiano confessou os crimes pela 1ª vez em março de 2019. Ele foi entregue à Itália em janeiro do mesmo ano, após ser preso por agentes da Interpol na Bolívia. Lula já afirmou que se arrependeu de ter dado asilo a Battisti e, em 2021, pediu desculpas “ao povo italiano”.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores brasileiro, a decisão em relação a Heredia foi formalizada na 3ª feira (15.abr), com base na Convenção de Asilo Diplomático assinada em Caracas, em 1954, da qual tanto Brasil quanto Peru são signatários. O governo peruano concedeu salvo-conduto para que Nadine e o filho deixassem o país em segurança.
Os recursos ilícitos usados na campanha peruana teriam vindo da empreiteira brasileira Odebrecht — hoje chamada Novonor. Humala e a empreiteira negam as acusações. O julgamento levou 3 anos. Durante esse período, o ex-presidente do Peru manteve a tese de perseguição política. Humala e Heredia podem recorrer da sentença, mas a prisão já está em vigor.
PERU & LAVA JATO
Quatro ex-presidentes do Peru e a filha de um 5º ex-chefe do Executivo peruano foram envolvidos na operação Lava Jato. A então Odebrecht teria pago propina aos políticos em troca de favorecimentos.
Em depoimento em 9 de novembro de 2017, o ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht afirmou que a empresa havia apoiado políticos peruanos: “Com certeza, apoiamos todos: [Alejandro] Toledo, Alan García, [Ollanta] Humala, Keiko [Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori]”.
Assista ao vídeo com as falas de Marcelo Odebrecht (2min15s):
O empresário disse também que havia acompanhado “uma ou duas palestras” do ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski para executivos da Odebrecht. Kuczynski foi ministro do governo Toledo.
A seguir, leia qual é a situação de cada um dos citados:
- Alejandro Toledo (79 anos) – condenado em 2024 a 20 anos de cadeia por, de acordo com a Justiça, ter recebido US$ 35 milhões em propina da Odebrecht. Está preso em Lima;
- Alan García (1949-2019) – cometeu suicídio em 17 de abril de 2019, antes de ser preso temporariamente. Era acusado de receber propina da empreiteira. Tinha 69 anos;
- Ollanta Humala (62 anos) – condenado em abril de 2025 a 15 anos de cadeia sob a acusação de ter recebido US$ 3 milhões da Odebrecht. A Justiça também condenou a ex-primeira-dama Nadine Heredia, 48 anos, ao mesmo tempo de pena. Ela está no Brasil depois de o governo brasileiro conceder asilo. Veio em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira);
- Pedro Pablo Kuczynski (86 anos) – está em prisão domiciliar e aguarda o desfecho do caso. O Ministério Público do Peru pediu 35 anos de cadeia ao político — ele teria beneficiado a Odebrecht em troca de propina;
- Keiko Fujimori (49 anos) – diferentemente dos nomes citados acima, a filha de Alberto Fujimori (1938-2024) nunca comandou o país. Suspeita de receber dinheiro da Odebrecht, ela ficou presa preventivamente de outubro de 2018 a novembro de 2019. Em janeiro de 2025, a Justiça peruana anulou o julgamento contra Keiko por falhas na acusação. Mandou o caso ser reiniciado.
Leia mais:
- Avião da FAB era única forma de trazer ex-primeira-dama, diz Mauro Vieira
- Jornais peruanos criticam asilo a ex-primeira-dama no Brasil
- Advogado de ex-primeira-dama do Peru defende uso de avião da FAB
- Ex-primeira-dama do Peru pede refúgio para permanecer no Brasil
- Ex-primeira-dama do Peru chega ao Brasil para asilo diplomático