Janja Lula da Silva: quem é a primeira-dama e sua influência no governo

Janja Lula da Silva e marido

Janja Lula da Silva ao lado do marido no Hospital Sírio Libanês -

Janja Lula da Silva ao lado do marido no Hospital Sírio Libanês – Foto: Ricardo Stuckert/PR/ND

Após metade do mandato cumprido, a primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, vive momento de exposição negativa para o atual governo. Mesmo sob a mira da oposição e a desconfiança de aliados, Janja se mantém próxima às decisões do governo federal.

Rosângela da Silva, a Janja, é formada em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Durante sua graduação, Janja participou de movimentos estudantis e se tornou militante do Partido dos Trabalhadores (PT).

Natural de União Vitória (PR), Janja não tem filhos, seus pais faleceram e possui um irmão por parte de pai, o publicitário Luiz Claudio da Silva. Em mais de uma ocasião, Luiz Claudio se posicionou nas redes sociais contra Lula e a favor de Bolsonaro.

Carreira da Janja Lula da Silva

O primeiro emprego da Janja foi na prefeitura de Curitiba, após passar em um concurso público. De 1988 a 1993, ela atuou como assistente de desenvolvimento social até se casar com o historiador Marco Aurélio Monteiro de Pereira.

Assim, ela pediu exoneração na prefeitura e se mudou para Ponta Grossa (PR) com o marido. A influência de Marco Aurélio, um líder petista na região, ajudou Janja a conseguiu um emprego no gabinete do deputado estadual Péricles de Mello. Além do trabalho no gabinete, ela atuou como professora colaboradora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por menos de um ano.

Após o término com Marco Aurélio, Janja retornou a Curitiba e foi trabalhar com o deputado estadual Ângelo Vanhoni (PT), que tinha conhecido quando universitária.

Em 2001, Janja trocou a assessoria parlamentar pela Chroma Engenharia, uma empreiteira paranaense. Dois anos depois, ela foi contratada como socióloga na usina hidroelétrica de Itaipu.

Dez anos depois, a futura primeira-dama recebeu uma licença de um ano da hidroelétrica para participar do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (Caepe) da Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro. Posteriormente, Janja foi cedida pela Itaipu para trabalhar na sede da Eletrobras, no centro da capital carioca.

Em 2017, Janja voltou para Curitiba para ocupar um cargo no escritório da Itaipu. A esta altura, Lula já a conhecia e eles conviviam discretamente. No entanto, em 2018, o acesso de Janja a Lula ficou restrito após sua prisão.

Inicialmente, Janja conciliou o trabalho com a vigília em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Porém, em 2019, os funcionários foram realocados para Foz do Iguaçu e Janja aderiu ao programa de demissão voluntária da empresa para permanecer próxima a Lula.

A partir de então, ela se dedicou exclusivamente aos cuidados de Lula na prisão. Quando o romance se tornou público, em maio de 2019, Janja passou a ser também a namorada do então ex-presidente preso.

Relacionamento com Lula

Apesar do espaço na mídia para o novo romance de Lula, os destaques nos noticiários estavam reservados para a discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) que poderia libertar o ex-presidente. Em novembro de 2019, após 580 dias sob custódia da Polícia Federal, Lula foi solto.

Com diferença de 21 anos de idade, Lula e Janja se casaram em maio de 2022, em cerimônia em São Paulo. No evento, foi apresentada a versão repaginada do jingle da campanha presidencial do PT em 1989, “Lula lá, sem medo de ser feliz”. Era um indicativo da influência da relação na política e vice-versa.

janja lula da silva

Cerimônia de casamento do presidente Lula e Janja, em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert /ND

Após o casamento, Janja Lula da Silva se tornou uma companhia constante do candidato petista à presidência da República. No ambiente familiar, o prestígio que Lula conferia à nova esposa causou mal-estar com o filho mais novo do Lula, Luis Claudio.

Em publicação oficial do PT nas redes sociais, o filho do Lula criticou as alterações feitas no texto original sobre a fundação da sigla. A postagem havia apagado a menção à Marisa Letícia, esposa de Lula por mais de 40 anos.

Janja nas eleições 2022

Durante a campanha presidencial em 2022, Janja Lula da Silva expressou a vontade de ser mais participativa no governo. Muito ativa nas redes sociais, Janja respondeu a seguidores na sua conta no Instagram que iria “tentar ressignificar esse conceito de primeira-dama.”

A presença da Janja Lula da Silva foi notada na rotina do candidato à presidência, do planejamento das refeições às reuniões com líderes da campanha. Na época, a cúpula do PT se sentiu incomodada com a postura da Janja.

Com o país polarizado, a estratégia da legenda era manter as pautas de costumes fora do debate para focar a atenção do público nos aspectos econômicos do país. Logo, quando Janja Lula da Silva respondeu um post da então primeira-dama Michelle Bolsonaro nas redes sociais sobre liberdade religiosa, o partido se viu diante de uma situação desconfortável.

Para parte do PT, entrar em temas como religião nas redes sociais era um pecado eleitoral. Porém, outra ala defendia que o campo progressista deveria participar de debates nas redes sociais. Além disso, novos aliados viam em Janja Lula da Silva um acesso ao candidato à presidência.

A oposição também enxergou em Janja Lula da Silva a oportunidade de atingir a campanha do candidato petista. De acordo com a Folha de S.Paulo, os responsáveis pela estratégia na disputa eleitoral de Jair Bolsonaro cogitaram incluir ataques à Janja Lula da Silva em sua propaganda eleitoral. No entanto, nenhum conteúdo foi veiculado pela campanha.

Ainda assim, aliados e apoiadores do presidente a associaram ao consumo de drogas e trataram com ironia a sua fé, por exemplo. Um dos casos foi parar no Tribunal Superior Eleitoral, que determinou, em março de 2024, que a Justiça Eleitoral é competente para julgar casos de ataques a cônjuges de candidatos quando houver conexão com a campanha.

Coube a Janja Lula da Silva se manter presente nos bastidores e nos eventos, mas sem relevância na propaganda eleitoral, com breves inserções direcionadas ao público feminino. Nos comícios, Janja acompanhou o candidato petista e participava na hora do encerramento ao cantar o jingle da campanha “Sem medo de ser feliz”, o mesmo que tocara em seu casamento.

Antes do primeiro turno, apenas 28% afirmaram conhecer bem a Janja Lula da Silva, enquanto Michelle Bolsonaro era reconhecida por 53% dos entrevistados pela pesquisa do Poder Data, realizada entre 4 e 6 de setembro de 2022.

A influência da primeira-dama na Esplanada

Com a vitória nas eleições, o PT precisava fazer as costuras políticas e apresentar os nomes que iriam executar o plano de governo endossado nas urnas. Com a coordenação do vice Geraldo Alckmin (PSD), cerca de 50 grupos técnicos esquadrinharam a Esplanada durante o período de transição para montar um governo de coalizão.

Neste momento de definições, Janja Lula da Silva mostrou força para conseguir influenciar a decisão em algumas pastas. As nomeações da Margareth Menezes para o Ministério da Cultura e da Anielle Franco para o da Igualdade Racial partiram de sugestões da primeira-dama. Além da participação na indicação dessas pastas, ela vetou o nome do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) para o Ministério do Turismo, por suspeitas de violência doméstica.

Apesar de conseguir cargos para outros, Janja Lula da Silva não conseguiu um para si. A socióloga reivindicava um espaço de trabalho no Palácio do Planalto e uma função oficial dentro do governo. O espaço físico foi concedido, assim havia sido para Michelle Bolsonaro, para Marcela Temer e  para a primeira esposa do presidente, Marisa Letícia Lula da Silva.

Segundo apuração da Veja, o veto a um título oficial para Janja partiu do ministro da Casa Civil, Rui Costa. De acordo com interlocutores ouvidos pela revista, a justificativa era que a nomeação poderia ser interpretada como nepotismo, mesmo sem remuneração pela atividade.

A primeira-dama Janja Lula da Silva ainda recorreu a Flávio Dino, ministro da Justiça, para dar apoio à criação de um cargo com segurança jurídica. De acordo com reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, Dino foi favorável ao pedido da primeira-dama e apresentou um estudo de caso, mas a proposta esbarrou na Casa Civil e na Advocacia Geral da União (AGU).

Janja Lula da Silva

O presidente Lula, acompanhado da primeira-dama Janja e de ministros durante sanção da lei do Mais Médicos. Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Quase dois anos depois, em entrevista à CNN, Janja afirmou que se sentiu “massacrada” por não conseguir um gabinete oficial. Para ela, o verdadeiro motivo foi “por machismo, por misoginia. Não só de homens mas de mulheres também.”

Ainda que sem um título, Janja Lula da Silva continuou acompanhando o marido em agendas estratégicas e até o substituindo em momentos delicados, como nas enchentes no Rio Grande do Sul em 2023, quando o presidente operou o quadril.

Em entrevista à BBC, em abril de 2024, Janja Lula da Silva afirmou que “meu papel é de articuladora, de quem fala sobre políticas públicas” e que o presidente lhe dá “total autonomia” para exercer sua função.

“Desde a campanha, disse que queria remodelar este papel de primeira-dama. A esposa que organiza chás de caridade e visita instituições filantrópicas, esse não é o meu perfil”, relembrou ela.

Oposição cobra viagens da primeira-dama

Recentemente, a primeira-dama virou alvo da oposição ao ter seus gastos com viagens questionados. Apesar de não poder assumir um cargo, Janja Lula da Silva representa o Brasil em agendas internacionais quando designada, como foi na na abertura dos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris.

Neste ano, as viagens para reunião da Cúpula Nutrição para o Crescimento em Paris e para visita de Estado a Tóquio aumentaram o volume de requerimentos contra Janja Lula da Silva.

Janja Lula da Silva

Presidente Lula e Janja em viagem ao Japão. Ricardo Stuckert / PR

De janeiro de 2023 até fevereiro de 2025, a primeira-dama Janja Lula da Silva foi alvo de 85 requerimentos protocolados na Câmara.  Deputados do PL, que é a sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, são responsáveis por 54 desses requerimentos.

Os ataques à Janja Lula da Silva se deslocaram também para a esfera digital. Após receber mensagens ofensivas, a primeira-dama trancou o seu perfil no Instagram.

PT ataca Michelle e Lula defende Janja

Em março deste ano, o PT apresentou cinco requerimentos no Congresso para pedir informações da ex-presidente Michelle Bolsonaro acerca de movimentações financeiras, uso do cartão corporativo e viagens com assessores, além de suspeitas em torno do programa Pátria Voluntária. Os documentos foram enviados pelo líder da sigla na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT/RJ).

Após as críticas de parlamentares da oposição às viagens da primeira-dama à França e ao Japão, Lula deu entrevista à imprensa defendendo a esposa.

“Ela faz viagem porque ela foi convidada, e não foi pouca coisa. Ela viajou a convite do governo Macron para discutir a aliança global contra a fome. E eu fiquei muito orgulhoso”, disse Lula. “Eu, sinceramente, não respondo à oposição nesses assuntos. Não respondo. Acho que a Janja tem maioridade suficiente para responder aquilo que é sério. Aquilo que é molecagem, aquilo que é fake news, aquilo que é irresponsabilidade, sabe, não responder”, comentou Lula.

Até o momento, todos os requerimentos apresentados por parlamentares da oposição solicitando investigação sobre os gastos das viagens internacionais da Janja foram arquivados no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Procuradoria Geral da República (PGR).

Em contrapartida, a AGU publicou um documento no início deste mês de abril com orientações sobre a atuação do cônjuge do presidente da República em compromissos nacionais e internacionais. As regras foram elaboradas a pedido da Casa Civil.

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