Presidente do IBGE desrespeita corpo técnico, dizem funcionários

O sindicato que representa os funcionários da Unidade Chile do IBGE (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística), no Rio, divulgou nesta 2ª feira (20.jan.2025) uma carta em solidariedade aos diretores do órgão demitidos em 7 de janeiro. O grupo afirmou que a presidência de Marcio Pochmann “tem sido pautada por posturas autoritárias e desrespeito ao corpo técnico”.

A seção do Assibge (Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE) atribuiu a saída de Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto ao fato de “não concordarem com as práticas da gestão” com Pochmann. A carta é assinada por 134 nomes do instituto de pesquisa, dentre gerentes, coordenadores e ex-diretores. Leia a íntegra do documento (PDF – 120 kB).

A troca na direção foi divulgada por meio de uma nota do IBGE, sem explicar os motivos. Na última 5ª feira (16.jan), a presidência do órgão disse ser alvo de “mentiras” divulgadas por funcionários. Afirmou que acionaria a Justiça contra a desinformação.

A gestão de Pochmann tem sido alvo de diversas críticas do sindicato, que acusa o presidente de “autoritarismo”. Segundo a representação, a presidência “prefere atacar servidores em vez de buscar diálogo e soluções”.

Eles criticam mudanças no estatuto do IBGE, a criação da fundação IBGE+ sem passar por deliberação em conselho, a volta ao trabalho presencial e a mudança de funcionários da unidade localizada na avenida Chile, no Rio de Janeiro, para outra no bairro do Horto.

“As recentes exonerações na Diretoria de Pesquisas do órgão, somadas às insatisfações manifestadas por outros membros da direção demonstram, de forma irrefutável, que não se trata de uma corriqueira discordância entre gestão e sindicalistas, ou mesmo algum descontentamento de parcela minoritária dos servidores. A insatisfação alcançou a mesa do Conselho Diretor do IBGE, a qual o presidente divide com os diretores”, escreveu o sindicato em nota.

A nota assinada pelos gestores da instituição representa uma escalada na tensão dentro do órgão, uma vez que funcionários com cargos mais altos manifestaram insatisfação. Segundo apurou o Poder360, uma reunião entre o sindicato e a diretoria-executiva do IBGE deve ser realizada na próxima semana para discutir as últimas decisões do órgão. Pochmann não deve estar presente, mas a expectativa é que as reclamações cheguem até a presidência. Há ainda a perspectiva de outros diretores pedirem demissão.

CRISE NO IBGE

Funcionários do IBGE por meio do sindicato tem se manifestado contra as mudanças estruturais que a gestão de Marcio Pochmann deseja fazer. Indicado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele foi nomeado para o cargo em 18 de agosto de 2023.

Em 15 de outubro, os trabalhadores do IBGE realizaram greve de 24h. Um dia antes, em 14 de outubro, Pochmann defendeu as mudanças estruturais na organização e afirmou que sua gestão tem promovido “o maior diálogo da história do órgão”. A tensão aumentou no início deste mês, com a troca de diretores de pesquisas do instituto.

A crise no instituto vem sendo usada pela oposição ao governo Lula. Em 27 de dezembro do ano passado, por exemplo, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que a taxa de desemprego no Brasil divulgada pelo IBGE é “uma mentira”. A taxa no trimestre encerrado em novembro foi de 6,1%, a menor do país na série histórica iniciada em 2012.

Segundo o ex-chefe do Executivo, as informações não servem para balizar a economia brasileira. “Quem não procura emprego, para o IBGE, está empregado. Para quem recebe qualquer benefício social, [como o] Bolsa Família, está empregado. Então sobra uma quantidade bem pequena de pessoas para saber se está empregado ou não. E essa mentira é corroborada pelo fato de ter aumentado o número de pessoas que procuram o seguro-desemprego”, declarou Bolsonaro.

Em resposta, a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou em 4 de janeiro que Bolsonaro “ataca” o IBGE porque tem “aversão à verdade”.

A presidente do PT disse que a metodologia usada pelo IBGE é a mesma utilizada em todos os governos desde 2012, inclusive no período em que Bolsonaro e o então ministro da Economia Paulo Guedes levaram o desemprego a 14% –agravado pela pandemia de covid. Em 2021, a taxa de desemprego ficou em 14,6% no trimestre encerrado em maio.

Em 15 de janeiro, o IBGE declarou: “A suspeição levianamente gerada sobre a possibilidade de manipulação de dados em uma casa técnica é um ataque direto à credibilidade do IBGE, agravado justamente pelo fato de ser produzido por aqueles que conhecem em profundidade o rigor, a metodologia e a ética profissional que conduzem uma instituição de quase 90 anos. Neste cenário, a direção do IBGE seguirá o exemplo dado pelo Supremo Tribunal Federal e a Advocacia Geral da União, que vêm enfrentando judicialmente a desinformação e as mentiras”.

IBGE ERROU MAPA

Sob a gestão de Pochmann, o IBGE lançou um mapa-múndi em que o Brasil aparece no centro do mundo como parte do 9º Atlas Geográfico Escolar. A versão, no entanto, apresentava uma série de erros.

Uma sequência trocava os mapas dos períodos Jurássico (o qual diz ter sido há 135 milhões de anos) e Cretáceo (65 milhões de anos) –diferença de 70 milhões de anos. A sequência também trazia informações incorretas sobre a idade, duração dos períodos geológicos e separação dos continentes no planeta. À época, o IBGE reconheceu as falhas e publicou uma errata.

Pochmann já presidiu a Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, e o Instituto Lula. Também foi presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Sua gestão foi criticada internamente por ter supostamente aparelhado o órgão e feito uma administração mais ideológica.

Com visão econômica mais heterodoxa, o chefe do IBGE já fez críticas ao Pix, às reformas trabalhista e previdenciária e defendeu a redução da jornada de trabalho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.