Governo não tem política fiscal, diz Gustavo Loyola

O diretor-presidente da consultoria Tendências, Gustavo Loyola, 72 anos, disse que a falta de política fiscal do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)  impede que a relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto) se estabilize. O resultado disso, segundo ele, é desconfiança de investidores, o que limita o crescimento econômico.

Loyola presidiu o BC (Banco Central) em 1992 e 1993, quando Itamar Franco era presidente, e de 1995 a 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Disse que o fato de o governo atual ter meta de deficit zero com muitas exceçõesaqui e acolá” resulta em baixa credibilidade. Afirmou que a expectativa de analistas do mercado é de seja feito um ajuste fiscal em 2027 “seja lá quem for” o presidente.

Há uma descrença muito grande em relação ao governo Lula. Logo a gente vai entrar no período eleitoral. O governo já está dando respostas populistas para melhorar a popularidade do presidente. Perdemos a oportunidade imensa de ter feito [um ajuste] nos primeiros anos do governo”, disse Loyola.

Assista (20min45s)

Leia trechos da entrevista

  • alta do PIB em 2025 – “[Será] em torno de 1,8%. O Brasil vai crescer menos porque o BC vai subir os juros e porque parte dos incentivos que vinham de transferências do governo não vai existir. A própria inflação também atrapalha. Reduz o poder de compra real dos trabalhadores”;
  • tarifas – “[Donald] Trump é sinônimo de imprevisibilidade. Não se sabe como e quando isso vai terminar. O que se sabe é que guerra tarifária acaba reduzindo o crescimento tanto dos países que impõem as tarifas quanto daqueles que sofrem com as tarifas. O 1º prejuízo para o Brasil é o menor crescimento global. O 2º são os setores diretamente atingidos pelas tarifas. A economia brasileira não é tão aberta [quanto outras], então não [deve haver] um efeito sobre o PIB muito forte, principalmente se o agronegócio se mantiver fora dessa guerra comercial”;
  • Selic – “Vamos ter um final de ciclo em torno de 15,5% até 16% porque há muita incerteza. Nossa perspectiva na Tendências é 15,75% [no fim do ano]. O Brasil ganhou um certo fôlego pela valorização do real. Isso pode ajudar um pouco”;
  • política monetária – “A situação fiscal hoje é mais grave [do que em outros períodos de alta da inflação]. Há as políticas de transferência de renda e políticas creditícias na contramão do BC, o que reforça a [necessidade] de uma dose mais alta do remédio dos juros. Houve também neste ciclo uma influência externa negativa. [Há] ancoragem das expectativas sobre a inflação em 2025, 2026, até 2027, acima da meta. Tudo isso ajuda a explicar por que que o BC está sendo obrigado a fazer um ajuste mais forte”;
  • resistência a ajuste – “O presidente Lula minimiza sempre que pode a ideia do equilíbrio fiscal. Prioriza o gasto, as transferências. A ideia [da esquerda] é que, incentivando a demanda, há o aumento do crescimento e da arrecadação e a partir daí pode-se cobrir o gasto adicional. É falacioso porque não haverá um efeito direto suficiente para isso. O país vai crescer menos por causa da desconfiança dos investidores em relação à capacidade fiscal. Se nada for feito, em algum momento isso pode gerar uma crise macroeconômica mais aguda. Fica-se dependente de um ajuste mais profundo”;
  • previdência – “Só a mudança no salário-mínimo, voltando-se a dar reajustes reais, eliminou uma parte importante dos ganhos da reforma previdenciária anterior, de 2019, que já foi bem incompleta, porque [não incluiu] os militares. Na medida em que a população envelhece, a necessidade de uma nova reforma fica mais presente”;
  • baixo crescimento – “A legislação aumentou o custo Brasil, piorou o ambiente de negócios. A Constituição de 1988 foi muito pródiga com os gastos obrigatórios dos 3 níveis de governo. De início, o Brasil conseguiu manter algum resultado fiscal favorável aumentando a carga tributária, que cresceu mais de 10 pontos percentuais [em relação aoPIB] desde a Constituição.  Isso significa menor produtividade e maior complexidade do sistema tributário. Mas a sociedade brasileira não aceita mais aumento de carga tributária e os gastos continuam a aumentar”;
  • aumento de produtividade – “[É necessário] o aumento da produtividade do próprio governo, investimentos em infraestrutura. A reforma trabalhista foi um ponto importante. As reformas no sistema de crédito também. O sistema financeiro e o mercado de capitais são muito mais eficientes [atualmente]. Houve a reforma tributária, aprovada pelo Congresso, embora com muitas mudanças. A educação me preocupa bastante. A gente vê uma certa dificuldade para [a população ter] acesso à educação de qualidade. Um grupo muito grande de brasileiros passou pela escola, mas não aprenderam praticamente nada”.

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