O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 2ª feira (31.mar.2025) que o Mercosul tem razões econômicas para justificar o abandono do acordo com a União Europeia. Segundo ele, uma das maiores vantagens do tratado é realizar uma aproximação política com o continente. Ou seja, o objetivo não seria puramente o comércio exterior.
“Se fizer a conta mais mesquinha, vai encontrar uma série de razões para não fazer, para não agregar, para não somar com a Europa. Mas, se fizer uma conta mais ampla, verá que talvez os líderes que estão de um lado e de outro defendendo a aproximação, talvez estejam chegando um pouco mais longe”, declarou Haddad.
Ele participou de um evento do Science Po (Instituto de Estudos Políticos de Paris), na França. Volta ao Brasil na madrugada de 4ª feira (2.abr) depois de mais compromissos no país europeu.
“Quando você olha para o acordo, do ponto de vista meramente econômico, não salta à vista uma grande vantagem para o Mercosul”, disse.
A conclusão das negociações foi anunciada em 6 de dezembro durante a Cúpula do Mercosul, em Montevidéu (Uruguai). O tratado é analisado na Europa e ainda passará por uma série de etapas burocráticas.
A finalização do acordo é um dos objetivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o seu 3º mandato como presidente. Ele quer passar a imagem de que o Brasil teria voltado a apresentar prestígio no exterior.
As principais resistências vêm dos setores agrícolas europeus, que temem perder espaço no mercado. Os maiores exemplos são a Polônia e a França.
Haddad mencionou os 2 países. Para ele, a oposição nas nações não justificam uma prática “absolutamente defensiva”.
“Podemos ter uma prática absolutamente defensiva, dizer não ao acordo porque vai desindustrializar o Brasil, porque vai afetar a produção agrícola francesa e polonesa. Ou nós podemos pensar diferente, em integrar nossas cadeias produtivas de forma a buscar sustentabilidade”, disse.
CRÍTICA AO PROTECIONISMO
Sem citar o nome do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), o ministro criticou o “protecionismo meramente econômico”. Afirmou que o mundo discute essas práticas há 2 meses.
“Estamos há 60 dias discutindo práticas protecionistas que não têm nenhum vínculo com a questão ambiental. Muito pelo contrário. Estão completamente em desacordo com as práticas ambientais. Estamos falando de retomada do óleo e gás, da retomada de produção manufatureira com energia fóssil, e assim por diante.”
A fala pode ser lida como uma referência a Trump. O norte-americano iniciou uma política tarifária para países que negociam com os EUA. Taxas extras foram impostas a aço, alumínio e carros importados.
Além disso, o comentário sobre as práticas ligadas ao setor de petróleo se relacionam a outra intenção do governo estadunidense: incentivar a exploração de fontes fósseis para produção de energia e não perder competitividade com nações como China e Rússia.
Não é a 1ª vez que Haddad critica o republicano. O brasileiro já definiu as práticas de comércio exterior como “sanha tarifária” e disse que as medidas estavam “abrindo guerra”.