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O MDB de Santa Catarina viveu 2023 com algum temor de enfrentar uma contradição perigosa. O Estado é majoritariamente conservador e amplamente eleitor do ex-presidente Jair Bolsonaro, um terreno pouco fértil a qualquer ligação com a esquerda. Ao mesmo tempo, o partido tem portas abertas no governo Lula (PT), especialmente nos três ministérios comandados pela legenda.

Presidente da Assembleia Legislativa, Mauro de Nadal (MDB), recebeu o ministro Jader Filho (MDB-PA), das Cidades, e o presidente do MDB de Santa Catarina, Carlos Chiodini antes da visita ao Summit Cidades – Foto: Divulgação / Ministério das Cidades / ND
Em 2024, no entanto, o MDB de Santa Catarina resolveu encarar. Ontem à tarde, no evento Summit Cidades, o ministro Jader Filho (MDB) chegou acompanhado do deputado federal Carlos Chiodini, presidente do MDB-SC, e do deputado estadual Mauro de Nadal, presidente da Assembleia Legislativa.
A fala de Jader Filho traz resultados e expectativas da retomada de programas que são a cara da esquerda no poder, como o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, mas que podem começar a ganhar cores emedebistas.
Presente nos governos de Lula (PT) e de Jorginho Mello (PL), no comando do parlamento estadual e com uma rede pulverizada de pequenas e médias prefeituras pelo Estado, o MDB de Santa Catarina tem condições de capitalizar ações do governo federal que por rejeição ideológica o catarinense não assimila como positivas.
Em Florianópolis, Jader Filho disse ter conversado com Nadal sobre a possibilidade de abertura de conversa com o governador Jorginho Mello para alinhar as esferas na questão habitacional. A antiga Cohab foi extinta em uma das reformas administrativas do governo Raimundo Colombo (PSD) porque tinha mais cargos a ocupar do que casas a entregar – e olha que nem era tão grande assim a estrutura.
Sua extinção não melhorou a situação, apenas tirou o cargo de chefia do radar político. A alternativa que pode ser construída entre os governos Lula e Jorginho, intermediada pelo MDB via Assembleia Legislativa, é um respiro institucional em meio a uma polarização política que engaja nas redes sociais, mas constroi muito pouco em termos palpáveis.
MDB de Santa Catarina: primeiro Renan, depois Jader
Jader Filho diz que a disputa política e partidária é importante e não pode deixar de ser realizada. Mas foi enfático na defesa de que isso não deve comprometer as políticas públicas – muito menos atrapalhar que estas cheguem à sociedade e aos cidadãos.
Foi a primeira visita do ministro das Cidades de Lula ao Estado que provavelmente é o mais bolsonarista do país. E está tudo certo. Jader Filho segue o caminho de outro ministro emedebista que tomou gostou por vir ao Estado: Renan Filho, dos Transportes.
São dois ministérios com muita capacidade de investimento e orçamento. As obras de duplicação das BRs 280 e 470 ganharam mais intensidade no último ano e meio, projetos estão saindo do papel nas BRs 282 e 470. O fim da interminável obra do Contorno Rodoviário da Grande Florianópolis, previsto para final de julho, aponta para um acordo com a concessionária para obras vitais para destravar a colapsada BR-101 entre Itajaí e Joinville e, quiçá, tirar do papel os túneis do Morro dos Cavalos.
Quem pode capitalizar isso? O MDB de Santa Catarina perdeu o medo de tentar.