O ex-presidente Michel Temer (MDB) disse nesta 5ª feira (23.jan.2025) que “o multilateralismo é fundamental” para o sucesso do país. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve manter uma relação institucional com o presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano). Porém, não se pode “desprezar o poderio” norte-americano.
“Muitas vezes, eu verifico que há entre as Presidências dos vários países, no particular no Brasil, uma relação de natureza pessoal entre os presidentes. Há simpatias, muitas vezes de natureza ideológica, que fazem com que o presidente de um país se aproxime do outro”, declarou em painel do Brazil Economic Forum Zurich 2025, organizado pelo grupo Lide, na Suíça.
De acordo com Temer, “autoridade constituída é uma autoridade secundária”, sendo o povo a primária. “E a vontade do povo está no texto constitucional. O que nós devemos levar em conta nessas relações é uma relação institucional”, afirmou.
O ex-presidente disse que, “de vez em quando”, as diferenças entre Lula e Trump vão “dificultar o relacionamento” entre eles. “Mas o que devemos pregar, difundir, divulgar, é esta relação institucional. Não são as pessoas que eu mencionei que manterão o relacionamento, mas é o presidente da República Federativa do Brasil com o presidente dos Estados Unidos da América”, declarou.
“É esta a relação que deve prevalecer. Mas eu reconheço e digo isso aqui em alto e bom som, eu vejo que há muito essa ideia de fazer um relacionamento de natureza pessoal”, declarou.
Apesar de defender uma relação institucional, Temer disse ser preciso fazer “algumas observações críticas”, caso seja necessário.
“Mas, especialmente, lançar uma palavra de harmonia. Nós não podemos desprezar o poderio da nação americana. Nós temos, até no exemplo da Constituição americana, os princípios básicos que serviram de fundamento para a 1ª Constituição republicana de 1891 e que foram servindo de exemplo para todas as demais Constituições”, declarou.
REELEIÇÃO
Temer disse ser contra a reeleição porque os políticos passaram a assumir os cargos já pensando na próxima eleição.
“Passei a ser contra o fenômeno da reeleição, exata e precisamente em função dos argumentos de que você assume poder e já está pensando no futuro. Então, você não mexe em certos vespeiros –por exemplo, na questão trabalhista, na questão previdenciária, na questão dos gastos públicos”, declarou.
Temer citou uma conversa que teve, pouco depois de assumir a Presidência da República, com o publicitário Nizan Guanaes.
“Ele me disse ‘presidente, aproveite a sua impopularidade e faça o que o Brasil precisa’”, afirmou Temer. “A tradução que eu dei a essa fala foi a seguinte: como ele achava que eu não ia para a reeleição, que eu deveria fazer aquilo que o Brasil precisava”, disse.
“Eu fui para os vespeiros e deu certo. Então eu acho, com toda a franqueza, que não causa benefício ao Brasil”, declarou.