A Polícia Federal apontou um elo entre a investigação sobre o suposto plano de golpe de Estado e as blitzes realizadas pela Polícia Rodoviária Federal no dia do segundo turno da eleição de 2022, que pararam pelo menos dois mil ônibus no nordeste, região onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha vantagem numérica contra Jair Bolsonaro (PL).
O vínculo é apontado no relatório final do inquérito que a PF enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) em dezembro passado. No documento, constam os indiciamentos do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, e do ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, indiciados em agosto, e de outras cinco pessoas, indiciadas em fevereiro do ano passado.
O caso chegou à mesa do ministro Alexandre de Moraes e foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR). A informação da conclusão do relatório foi divulgada pelo portal UOL e confirmada pela CNN.
A PF incluiu, no relatório final, um apenso [outro processo anexado], fruto de outro inquérito instaurado na Superintendência Regional da Polícia Federal no Distrito Federal, para investigar a participação de demais servidores e diretores da PRF à época.
Este foi concluído em fevereiro de 2024, com o indiciamento de cinco pessoas pelos crimes de desobediência, prevaricação, restrição ao exercício do direito de voto e participação por omissão no crime de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, por meio da restrição do exercício dos poderes constitucionais.
Foram indiciados ex-diretores da cúpula da PRF e um ex-coordenador de inteligência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Segundo as investigações, a cúpula da PRF, então chefiada por Silvinei Vasques e subordinada ao ministro da Justiça, Anderson Torres, deu ordens ilegais para a PRF articular operações com o objetivo de dificultar o deslocamento de eleitores do então candidato Lula, durante o segundo turno da eleição de 2022.
Além de Torres, Silvinei e ex-diretores da PRF e um servidor da ANTT, a PF também indiciou quatro delegados federais que trabalharam com Anderson Torres: Alfredo de Souza Lima Coelho Carrijo, Fernando de Sousa Oliveira, Leo Garrido de Salles Meira, Marília Ferreira de Alencar.
O indiciamento desses se baseou no artigo 359-P do Código Penal, que penaliza quem restringir, impedir ou dificultar, com emprego de violência física, o exercício de direitos políticos a qualquer pessoa em razão da procedência nacional.
A PRF informou, em nota, que, em âmbito administrativo, abriu processo administrativo disciplinar (PAD) para apurar a conduta dos servidores indiciados e que o processo foi avocado [assumido] pela Controladoria-Geral da União (CGU).
A ANTT destacou que segue colaborando com as autoridades de segurança e prestando todas as informações necessárias. “Sobre o servidor público cedido à agência, a ANTT adotou as medidas cabíveis”, informou a nota.
Abin paralela
Essa não é a primeira ligação de outros inquéritos que a PF aponta com o suposto plano de golpe de Estado.
Em dezembro passado, a CNN revelou que a PF detalhou a ligação entre a espionagem ilegal que ocorreu na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a trama para manter Jair Bolsonaro (PL) na presidência, no fim de 2022.
“A investigação, conduzida nos autos da petição 12.100, identificou a participação de servidores, na época dos fatos, lotados na Agência Brasileira de Inteligência-ABIN, que atuaram com a finalidade de disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral brasileiro e assessorar o então presidente JAIR BOLSONARO com estratégias de ataques às instituições democráticas, ao Poder Judiciário e seus respectivos membros”, diz a PF em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Este conteúdo foi originalmente publicado em PF aponta elo entre blitzes da PRF na eleição de 2022 com plano investigado no site CNN Brasil.