Sem EUA, êxito será “extremamente” desafiador, diz presidente da COP30

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que a possível ausência dos Estados Unidos na conferência aumentará os desafios em torno de um consenso sobre os investimentos dirigidos aos países em desenvolvimento para minimizarem efeitos das mudanças climáticas. A presença dos EUA foi colocada em xeque depois que o presidente Donald Trump (Partido Republicano) retirou o país do Acordo de Paris.

“Se com os EUA, que tinham um governo que queria combater a mudança do clima e claramente estava envolvido nessa agenda, só se conseguiu US$ 300 bilhões, como a gente terá mais durante este ano, para apresentar uma fórmula? Será uma coisa extremamente desafiadora”, afirmou o embaixador em entrevista ao jornal O Globo.

A COP30, Conferência das Nações Unidas pelas Mudanças Climáticas, será sediada este ano em novembro em Belém (PA). Na 3ª feira (21.jan.2025), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nomeou Corrêa do Lago para a presidência da conferência. Como mostrou o Poder360, o anúncio no Brasil veio atrasado em relação ao ao Azerbaijão, sede da COP29, que no mesmo período de 2024 já havia definido o titular do cargo.

O último documento final, assinado na conferência anterior, colocava a meta de investimento aos países em desenvolvimento em US$ 300 bilhões, apesar da expectativa de que chegasse a US$ 1,3 trilhão. “Temos o mandato de tentar conseguir estabelecer uma forma de obter US$ 1,3 trilhão. Temos de convencer os países e o setor privado também”, disse Corrêa do Lago, acrescentando que a ausência dos EUA não significa a ausência dos bancos e empresas norte-americanos.

Questionado sobre a possibilidade de o Brasil não conseguir chegar a uma declaração final na COP30, o Corrêa do Lago disse que esse risco está sempre no horizonte. “Como é consenso, é um risco constante. Porque consenso significa, de certa forma, que todos têm poder de veto. Mesmo uma pequena ilha pode bloquear uma negociação de mudança do clima”, ponderou.

O embaixador falou também acerca da discussão sobre se o Brasil deve ou não explorar petróleo na Margem Equatorial. Corrêa do Lago afirmou que, apesar de essa ser uma decisão soberana do Brasil, seria importante chegar à COP30 com o debate encaminhado ou, ao menos, amadurecido.

“O importante é que se tenha um debate, porque o que estamos vendo são pessoas totalmente a favor ou pessoas totalmente contra. O ideal é que chegássemos na COP já com um encaminhamento desse tema ou com, pelo menos, com uma grande maturidade”, disse ao jornal.

A Margem Equatorial ganhou notoriedade nos últimos anos. Descobertas recentes de petróleo e gás no litoral da Colômbia, Guiana, Guiana Francesa e do Suriname mostraram o potencial petrolífero da região, localizada próxima à linha do Equador.

No Brasil, se estende a partir do Rio Grande do Norte e segue até o Amapá. A Petrobras tem 16 poços na nova fronteira exploratória. No entanto, só tem autorização do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, para perfurar 2 deles, na costa do Rio Grande do Norte.

Criticada por ambientalistas, a exploração na Bacia da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, deve começar em 2025, segundo previsão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). A operação está travada desde o ano passado, quando técnicos do Ibama recomendaram manter a negativa à emissão de uma licença ambiental para a empresa perfurar o poço no local.

O Ibama negou a licença para áreas como a da bacia da Foz do Amazonas, identificada como FZA-M-59. O bloco fica a 175 km da costa, a uma profundidade de 2.880 km. Apesar do nome Foz do Amazonas, o local fica a 540 km da foz do rio propriamente dita.


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