O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), anunciou na 3ª feira (6.mai.2025) que os 5 venezuelanos que estavam asilados na Embaixada da Argentina em Caracas (Venezuela), foram libertados e estão em solo norte-americano.
A operação, realizada de surpresa, foi classificada como “precisa” pelo secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio. Disse que os opositores ao governo de Nicolás Maduro (Partido Socialista Unidos da Venezuela, esquerda) eram reféns. O grupo é formado por colaboradores da principal líder da oposição, María Corina Machado, que atuaram na campanha de Edmundo González nas eleições de julho de 2024.
“O regime ilegítimo de Maduro minou as instituições venezuelanas, violou os direitos humanos e colocou em risco nossa segurança regional. Agradecemos a todo o pessoal envolvido nesta operação e aos nossos parceiros que ajudaram a garantir a libertação segura desses heróis venezuelanos”, escreveu Rubio em sua página no X ao anunciar a operação.
O grupo estava asilado na embaixada argentina há mais de 1 ano. Os asilados haviam buscado refúgio no local depois de a Procuradoria Geral da Venezuela acusá-los de conspiração e “traição à pátria”.
O governo brasileiro assumiu a segurança da representação da sede diplomática em 1º de agosto de 2024 depois que o governo venezuelano determinou a expulsão do corpo diplomático do país liderado por Javier Milei (La Libertad Avanza, direita) e outras 6 nações da América Latina. Não há funcionários brasileiros no local.
A medida se deu porque, à época, os governos contestaram a legitimidade da reeleição de Maduro nas eleições de 28 de julho de 2024. O corpo diplomático e os militares argentinos deixaram a Venezuela atendendo à notificação de Maduro.
O papel brasileiro na embaixada argentina é de, principalmente, custodiar as instalações e os arquivos. O país também havia se tornado responsável por assegurar a proteção dos integrantes da oposição ao governo chavista, que estavam abrigados na embaixada em Caracas.
María Corina Machado comemorou o sucesso da operação em uma publicação na sua página no X. “Uma operação impecável e épica pela liberdade de 5 heróis da Venezuela. Meu infinito reconhecimento e gratidão a todos aqueles que tornaram isso possível”, disse.
RECLAMAÇÃO A LULA
Em 28 de abril, o grupo que estava na embaixada enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com cobranças por uma solução que assegurasse a saída do grupo do local.
Na carta, os opositores criticaram a omissão dos representantes brasileiros e pediram celeridade no processo.
“Hoje completamos 404 dias desde que ingressamos nesta sede diplomática, e mais de 5 meses sem eletricidade nem água corrente, em condições que violam os direitos humanos básicos. Essa situação se agrava pelo cerco policial constante nos arredores da sede diplomática. […] Presidente Lula, já esperamos há mais de 1 ano uma ação concreta que garanta nossa saída segura, acompanhados por seu governo, preservando nosso direito à vida, o qual tememos diante da ameaça contínua que enfrentamos”, dizia um trecho do documento. Eis a íntegra (PDF – 346 kB).
Desde que assumiu a segurança da embaixada, o governo brasileiro vinha tentando negociar um salvo conduto para que o grupo pudesse deixar o local e seguir para uma base aérea ou aeroporto para sair do país. O governo de Maduro nunca concedeu tal pedido.
Segundo o grupo, o “silêncio” de Lula sobre a situação era contraditório e manchava a imagem do governo brasileiro. “Hoje, a bandeira do Brasil é humilhada, como somos humilhados nós diariamente dentro desta embaixada, que transformaram em prisão”, afirmaram os opositores à época.
“Em um contexto no qual a memória histórica e a justiça são valores defendidos pelo governo brasileiro, nós nos encontramos presos em um limbo, sem os salvo-condutos que são um direito dentro dos marcos dos convênios internacionais firmados. Imagine o que é passar mais de 5 meses sem eletricidade, sem água nas tubulações e com ameaças físicas constantes. O silêncio dói muito”, dizia a carta.
ENCONTRO COM MADURO
Lula deve se encontrar com Maduro na Rússia nesta semana. O petista embarcou na 3ª feira (7.mai) para participar da comemoração do 80º aniversário do Dia da Vitória.
A data marca a conquista dos Aliados contra a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial, a ser celebrada na 6ª feira (9.mai). O presidente da Rússia, Vladimir Putin, convidou tanto Lula quanto Maduro para a cerimônia. Esta será a 1ª vez que os líderes sul-americanos se encontrarão pessoalmente desde as eleições na Venezuela, em julho de 2024.
O pleito que reelegeu Maduro foi marcado por controvérsias em relação à legitimidade do resultado. À época, Lula inicialmente disse não haver “nada de anormal” com o processo eleitoral venezuelano, mas que esperaria a divulgação dos resultados oficiais pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Em agosto de 2024, o governo brasileiro, junto com o mexicano e o colombiano, cobrou a divulgação das atas de votação pela gestão Maduro.
Nicolás Maduro tomou posse em janeiro de 2025, mas Lula não compareceu. A embaixadora brasileira em Caracas, Gilvânia Maria de Oliveira, representou o país na cerimônia. A ausência do petista marcou o afastamento entre os líderes, que cultivavam uma relação amistosa até então.