Projeto que libera jogos de azar está pronto para votação, diz relator

Relator do projeto para liberar cassinos, bingos e jogo do bicho no Brasil, o senador Irajá (PSD-TO) afirmou, em entrevista ao Poder360, que o texto está maduro e que já tem os votos necessários para aprová-lo no Senado. 

Ele disse que a decisão de quando será votado está nas mãos do presidente da Casa Alta, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Mencionou que foi sob a presidência de Alcolumbre que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado aprovou a proposta.

“Está pronto, maduro para ser discutido e votado no plenário, assim que o nosso presidente Davi entender que o ambiente está apto para votação”, declarou em entrevista dada na 4ª feira (9.abr.2025).

Irajá disse estar disposto a conversar com a bancada evangélica, uma das grandes opositoras à liberação dos jogos e disposta a fazer uma mobilização caso o texto seja pautado. Para ter esse apoio, falou estar disposto a fazer mudanças no texto.

“Estou aberto ao diálogo, inclusive, com a bancada evangélica, que tem tido uma posição muito firme, contrária à aprovação dessa matéria. Acredito no bom senso”, falou.

Ele estima que a mudança levará R$ 22 bilhões de impostos para os cofres públicos e aumentará o número de turistas de 6 milhões para 12 milhões ao ano.

Irajá também comentou sobre as eleições de 2026. Disse que pretende concorrer à reeleição do Senado e defendeu que sua mãe, a ex-senadora e ex-ministra Kátia Abreu (PP-TO), tente um cargo eletivo.

Afirmou ainda esperar que a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) melhore até o ano que vem e que o petista também avance na interlocução política, tanto no Congresso como com governadores e com prefeitos.

Disse ainda que seu partido, o PSD, que hoje ocupa 3 ministérios no governo, merece ter mais espaço na Esplanada.

Assista (26min29s):

Leia trechos da entrevista do senador Irajá ao Poder360:

O projeto dos jogos de azar é controverso. Conversou com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, sobre quando será votado?

Tenho conversado constantemente com o presidente Davi Alcolumbre, que é o presidente do Congresso, mas que, até dezembro, era presidente da Comissão de Constituição e Justiça, onde votamos o projeto da regularização dos jogos responsáveis. Vencemos aquela votação com 14 votos favoráveis e 12 contrários. 

Pelos debates que tivemos no Senado, com audiências públicas, a matéria está pronta, madura para ser discutida e votada no plenário, assim que o nosso presidente Davi, com a sua sensibilidade, e juntamente com os líderes partidários, entender que o ambiente está apto para votação. 

Seu último relatório é de dezembro de 2024. Pretende fazer mudanças ou está pronto? 

Avançamos muito, discutimos na Comissão de Constituição e Justiça. Várias emendas foram acatadas e contribuíram para aperfeiçoar o texto.

O texto aprovado na Câmara só previa a possibilidade de construção de resorts integrados em novos projetos. Isso excluiria os empreendimentos já construídos no Brasil de participar de futuras concorrências. Grandes hotéis que já temos não poderiam participar. Fizemos uma correção na redação. 

Não significa que o texto está engessado. Há possibilidade que sejam apresentadas emendas, e esse texto possa ser aprimorado. Estou aberto ao diálogo, inclusive, com a bancada evangélica, que tem tido uma posição muito firme, contrária à aprovação dessa matéria. Acredito no bom senso.

É um projeto importante para o país. Vamos revolucionar o turismo brasileiro. Não podemos ficar assistindo países vizinhos como Argentina, Uruguai e Chile receberem tantos milhões de turistas internacionais, e o Brasil não pode, porque não oferece essa modalidade de turismo do jogo responsável.

Vai gerar emprego, renda, 22 bilhões de novos impostos, que serão revertidos em áreas essenciais, como a saúde e a educação. Sem contar que toda a cadeia de turismo, a construção civil, os prestadores de serviços, pousadas, restaurantes, serão altamente beneficiados.

Muitos senadores contrários ao projeto usam o exemplo das bets, com relatos de vício e prejuízos financeiros. É o melhor momento para aprovar seu projeto?

Sem dúvida. Dos 38 países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], apenas a Islândia ainda não aprovou o jogo responsável. Se levar em conta o G20, que são as 20 maiores economias do mundo, apenas o Brasil e a Indonésia não legalizaram.

Se olhar para a América do Sul, de 13 países, apenas o Brasil e a Bolívia não tiveram coragem de fazer esse enfrentamento.

Não pode estar o mundo todo errado e só nós certos, assistindo todos esses países se desenvolverem do ponto de vista econômico, social. 

Estou particularmente convencido de que temos o número suficiente para aprovar essa matéria. O Brasil, que ocupa a 50ª posição no turismo internacional, não pode ficar assistindo de camarote e se dar ao luxo de não aproveitar essa grande oportunidade de geração de emprego, de renda e de impostos. 

O presidente da frente evangélica do Congresso, o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP), falou que fará uma mobilização contra o projeto. Como tentará reverter a rejeição? 

Com os argumentos. Contra argumentos, não há como contestar.

Se pegarmos todos os exemplos que citei, casos de países democráticos e civilizados como o nosso, todos avançaram em seus indicadores sociais e econômicos. Sem exceção, todos dobraram o número de turistas.

Há 10 anos, recebíamos 6 milhões de turistas por ano, em média. Esse número não foi superado. A expectativa em 5 anos é saltarmos para 12 milhões.

Estamos falando do investimento na ordem de R$ 100 bilhões que serão investidos nos projetos, entre resorts integrados – esses complexos turísticos –, bingo, jogo do bicho, todas as modalidades. 

Sem preconceito, esse projeto trata da legalização do jogo responsável. Existe o jogo de azar, dominado pelo crime organizado no Brasil. 

O jogo responsável é o jogo que está na margem da lei, não na sombra da lei, que o poder público fiscaliza. Você depura quem participa desse ambiente, convidando empresas sérias e idôneas a operarem nesse mercado, fiscalizado pela Receita, pela Polícia Federal, pelos órgãos de controle. 

Há as pessoas que querem manter o jogo na sombra da lei, dominado pelo crime organizado. E tem pessoas, como eu e a grande maioria dos colegas senadores, que desejam ter o jogo responsável, fiscalizado pelo poder público e que pague impostos, revertidos para benefício da população.

Já decidiu se vai tentar reeleição ao Senado em 2026 ou se candidatar ao governo do Tocantins? 

Tenho que combinar com o gosto do freguês, que é o eleitor. É evidente que gostaria de continuar trabalhando e representando o meu Estado, do qual tenho muito orgulho.

Estou há 15 anos no Congresso, foram 2 mandatos como deputado federal e, desde 2019, aqui no Senado.

No ano que vem, às vésperas das convenções, precisamos fazer uma grande avaliação do mandato e fazer uma pesquisa de opinião pública, que vai ser determinante na minha decisão final.

Mas, do meu coração, gostaria muito de poder continuar trabalhando e representando o Tocantins no Senado. 

O senhor é crítico frequente do governador do Tocantins, Wanderley Barbosa (Republicanos). Essas críticas podem ser interpretadas como alguém de olho no governo do Estado?

Compreendo as pessoas fazerem essa avaliação. Em toda eleição, elegemos duas pessoas, uma para governar e outra para fazer oposição. E assim aconteceu no Tocantins em 2022, quando tive a oportunidade de disputar a eleição para governador do meu Estado.

Tenho feito uma oposição propositiva, responsável, apontando os erros, as críticas, os desmandos do governo, o caos que está instalado na saúde do Estado, na segurança, no social. 

Infelizmente, o Estado está tomado por corrupção em todas as áreas, uma corrupção sistêmica, chegando ao nível de ter desvio de dinheiro na compra de cestas básicas, no pior momento da história do nosso país, da Covid.

Seu partido, o PSD, compõe o governo Lula. Como avalia a gestão do presidente?

Confio muito na sensibilidade do presidente Lula. Ele é um político experiente e que, acima de tudo, tem espírito público de trabalhar pelo país, de servir ao nosso Brasil e procurando acertar.

E é isso que o governo tem feito. Acerta 100%? Não. É impossível ter uma administração em que só há acertos. Há os erros também, mas, com muita humildade, ele tem procurado corrigir essas falhas. 

Nos próximos 2 anos, o governo vai entrar numa curva de grandes acertos, principalmente nas áreas sociais, com os programas Minha Casa, Minha Vida; Luz para Todos; Vale Gás e a isenção do imposto de renda.

Estou muito confiante e animado que o governo tende, a partir desse ano, a melhorar cada vez mais, acertar onde está errando e entregar ao país uma qualidade de vida melhor à população, principalmente à população mais sofrida. 

Onde o governo está errando? 

A articulação política é algo que pode sempre melhorar. E digo isso em todos os âmbitos, não só na Câmara ou no Senado, mas nas relações com os governadores e com os prefeitos.

Acredito na capacidade administrativa do presidente Lula e que teremos, quando chegar na véspera da eleição, um governo muito bem avaliado.

O senhor é ligado ao agro. O governo precisa melhorar a comunicação com o setor?

Sou produtor rural, com orgulho. Passei minha infância e minha adolescência na fazenda. Do 1º ao 2º governo Lula, nosso setor nunca foi tão bem contemplado e assistido, com vários programas. Tivemos financiamentos, o PSI [Programa de Sustentação do Investimento] de máquinas na época, um juro baixíssimo na ordem de 2%, 3% ao ano. Foi uma grande revolução. A grande parte dos produtores na época conseguiu modernizar seu aparato de máquinas e implementos agrícolas.

A convivência do presidente com o agro sempre foi propositiva. No presente, vemos esse acirramento político, mas com as medidas que o governo vem tomando no Plano Safra, essa relação vai sendo construída aos poucos e sendo harmonizada. Agora, pode melhorar? Deve. Sempre melhorar.

Precisamos melhorar a condição do seguro rural, em função das catástrofes que vêm acontecendo de forma recorrente. Mas, se analisarmos esses 2 primeiros anos, praticamente todos os pleitos que o setor vem apresentando ao governo federal têm sido atendidos. 

O PSD merece ter mais espaço no governo Lula? 

O PSD é a maior bancada do Senado Federal, com 15 senadoras e senadores. Na Câmara Federal, também tem uma bancada expressiva, com quase 40 deputados.

O que tenho acompanhado são articulações, para que tenha o mesmo tamanho e a mesma relevância que vêm dando ao governo nas votações que o governo exige.

Acho que é um pleito razoável. O PSD tem acompanhado de forma majoritária nas matérias que são imprescindíveis ao governo. No Senado, não é diferente. 

Quando o PSD vai tomar a decisão de lançar um candidato à Presidência? 

Já foi lançada uma pré-candidatura, do governador do Paraná, a do Ratinho Jr., inclusive, com o apoio da cúpula partidária do PSD e do nosso presidente, Gilberto Kassab

Sabemos que é uma estrada longa. Até as convenções, são praticamente mais de 1 ano e 2 meses. A estruturação de uma pré-campanha passa pelo convencimento das bases do partido, seja nos Estados, por meio dos governadores, seja na bancada federal, na Câmara e no Senado.

É uma construção. Temos tempo até lá. Com muita maturidade, serenidade, quando estivermos próximos da convenção, o partido tomará a decisão correta, se vai com a candidatura própria ou se vai apoiar uma candidatura já apresentada. 

Ratinho Jr. tem força para expandir sua base para o Norte e para o Nordeste e manter a candidatura até o ano que vem? 

Eu acho. Inclusive, até tem surpreendido nas pesquisas de opinião pública divulgadas recentemente. Vem pontuando muito bem. Para quem não fez nenhum lançamento de pré-candidatura e apenas fazendo um trabalho de bastidores, me surpreendeu a sua popularidade no país. 

São elementos que devem ser levados em conta. Se continuar crescendo, do ponto de vista político e da opinião pública, é natural que se consolide. 

Sua mãe, Kátia Abreu, era mais vocal. O senhor é mais discreto. São estilos diferentes?

É muito interessante, cada um tem uma característica. A senadora Kátia, minha mãe, sempre foi um grande exemplo para mim, de pessoa correta, combativa, de que não há nada que possa desaboná-la durante praticamente 30 anos de vida pública. 

É claro que temos características diferentes, estilos diferentes. Mães e filhos sempre têm suas características. Mas tenho sempre que me espelhar nela quando vou defender um projeto no Senado, relatar alguma matéria, discutir algum tema no plenário. Ela sempre foi uma grande referência.

Ela está sem mandato desde 2022. Tentará algum cargo em 2026? 

Não posso responder. Ela está muito bem, ocupando uma posição importante no BNDES e tem atuado no setor privado.

É uma decisão de foro íntimo. Mas é uma pena um quadro como ela, uma mulher muito preparada, com serviço prestado na vida pública, não estar hoje na política.

O senhor defende que ela volte para a política?

Eu acho. Todas as pessoas boas, inclusive a minha mãe, devem contribuir para a política brasileira e, em especial, para o nosso Estado, o Tocantins. 

A direita pretende eleger muitos senadores em 2026 e avançar sobre as cadeiras do centro, incluindo do PSD. Como avalia?

Sou do PSD desde a fundação do partido, desde 2010. É um dos maiores partidos do país e tem grandes quadros na política nacional. Agora, esse enfrentamento da eleição é natural. Partidos como o PL ou outros da direita vão colocar e posicionar determinadas prioridades. 

Mas a política é uma nuvem. Hoje, está de um jeito. Amanhã, de outro. Agora, há um objetivo, amanhã pode ser outro. Então, tenho muita cautela em poder falar, sobretudo, em nome de outros partidos. 

Sei que o PSD pretende manter, senão a maior, umas das maiores bancadas do Senado Federal.

O próprio presidente Gilberto Kassab tem deixado isso muito claro nas suas manifestações. E estou muito confiante que consigamos manter essa posição. 

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